Viva a Lusa!

Os fogos de artifício coloriam o céu anunciando o “até breve” ao Canindé. A despedida do estádio, com seus detalhes únicos, era uma realidade difícil de aceitar. Sentado na arquibancada, revivi memórias: os degraus desafiadores da infância, o fosso que elevava o gramado, a perseguição ao bandeirinha com meu amigo, os gritos roucos junto à grade. Os alambrados, ausentes na minha infância, agora testemunhavam a paixão da torcida. Lembrei da Rainha e do Kaverna, suas vozes ecoando na memória. O cheiro de tremoços e da churrascaria na Marginal, as moedas jogadas para o alto, os intervalos acompanhando o ataque da Lusa, os abraços nos amigos, meu pai e avô materno ao lado – tudo voltava à mente. Após o jogo, encontrava meu avô paterno em seu canto, com seu radinho, reclamando da “Burra”. Olhando para lá, quase o vi lamentando mais um empate. “Sempre foi assim”, diríamos juntos. As lágrimas vieram com a lembrança. Um choro de despedida de um lar, um reflexo da imigração do meu avô. Um menino passando comentou sobre o empate, mas seu pai entendeu: “Ele chora pelo Canindé”. O empate em 2 a 2 com o Novorizontino, após estarmos vencendo por 2 a 0, foi frustrante. Vitória que escapou. A Lusa, porém, mostrou outra postura, com vibração e intensidade. Faltou efetividade e atenção. A briga contra o rebaixamento sempre existiria, mas o nível técnico e o desespero poderiam ser diferentes. Pontos preciosos perdidos. As lágrimas, no entanto, não foram pelo empate, mas pela despedida. “Sempre foi assim”, repeti para mim e para os amigos que me abraçaram. A despedida do Canindé. Toquei o concreto, senti a presença do meu avô e agradeci. “Vai dar certo”, sussurrei. A esperança do lusitano. Nosso Canindé, raiz eterna, confrontado com a realidade. A esperança, em casa, sempre teve som: o grito de “Portuguesa” após cada gol. Desci os degraus ao som de “Casa Portuguesa”. Deixei o estádio como entrei: com meus pais. O Canindé: morada, lar, família. Pertencimento. Identidade. A paixão pela Portuguesa materializada. Obrigado, Canindé. Volte logo. Cantaremos novamente: “E viva a Lusa do nosso Canindé!”

*Luiz Nascimento, jornalista da CBN e documentarista do Acervo da Bola, escreve sobre a Portuguesa há 15 anos.

Portuguesa se despede do Canindé em empate com Novorizontino — Foto: Cristiano Fukuyama / Acervo da Lusa

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