A venda da SAF do Vasco para a 777 Partners: Documentos revelam detalhes do negócio
Dois anos após a assinatura dos contratos de venda da SAF do Vasco para a 777 Partners, os documentos se tornaram públicos. A juíza Melissa Bertolucci negou o pedido de segredo de justiça, possibilitando a divulgação do conteúdo.
A KPMG, consultoria que intermediou a venda, entrou com ação judicial para receber R$ 24,5 milhões pelos serviços prestados, alegando ter recebido apenas R$ 6,6 milhões.
O processo, que conta com 394 páginas, inclui o acordo de acionistas assinado por Vasco e 777 Partners, cujo efeito foi suspenso por decisão judicial em maio deste ano.
O acordo de acionistas, que regula o relacionamento entre os sócios da SAF, foi revelado na ação judicial. O contrato de investimento, que detalha questões financeiras, ainda não foi divulgado.
O Vasco e a A-CAP, atual controladora da 777, buscam revender a SAF do clube no mercado.
Obrigações financeiras da 777 Partners
O acordo de acionistas detalha as obrigações financeiras da 777 Partners, incluindo:
* **Assunção das dívidas do Vasco:** até R$ 700 milhões.
* **Investimentos na SAF:** R$ 700 milhões.
* **Custos de estruturação:** até R$ 28 milhões.
Além disso, a 777 se comprometeu a investir no futebol do Vasco:
* **Orçamento do futebol:** R$ 360 milhões em 2022 e 2023, R$ 250 milhões (56% da receita anual) em 2024, 2025 e 2026, e um dos cinco maiores orçamentos do futebol brasileiro a partir de 2027.
* **Infraestrutura:** R$ 25 milhões em obras de modernização até junho de 2024.
Em caso de descumprimento das obrigações financeiras, a 777 ficaria impedida de receber dividendos.
O Vasco foi definido como o “flagship” da 777 na América do Sul, tendo prioridade em caso de aquisição de outros clubes no continente.
Inadimplência da 777 Partners
A associação do Vasco entrou com ação judicial para remover a 777 do comando da SAF, alegando inadimplência em relação aos aportes.
O contrato prevê um “bônus de subscrição” para o Vasco em caso de inadimplência da 777, permitindo que o clube reassuma o controle da SAF mediante a emissão de um título no valor de R$ 1.000.
A 777 também possui um “bônus de subscrição”, que permite ao grupo retornar à SAF mediante o pagamento do aporte atrasado, acrescido de juros.
Restrições à revenda da SAF
O acordo de acionistas impõe restrições à 777 Partners na revenda da SAF:
* A 777 não pode vender a SAF enquanto não tiver investido R$ 700 milhões.
* A venda para clubes-empresas, pessoas controladoras de entidades esportivas no Brasil ou membros da administração de clubes do Rio de Janeiro é proibida.
* A venda para concorrentes como Fenway Sports Group, City Football Group, Pacific Media Group, Red Bull e Eagle Football também é proibida.
O Vasco possui o direito de “drag along”, que o permite obrigar a 777 a vender sua participação na SAF caso haja uma oferta de compra, com as mesmas condições negociadas pelo clube.
Conclusão
A divulgação dos documentos da venda da SAF do Vasco para a 777 Partners revela detalhes importantes sobre o negócio, incluindo as obrigações financeiras da 777, os mecanismos de proteção para o Vasco em caso de inadimplência e as restrições à revenda da SAF.
A atual diretoria do Vasco optou por suspender os contratos por via judicial em maio deste ano, abrindo um novo capítulo na saga da SAF vascaína.
Josh Wander, fundador da 777, e Jorge Salgado, presidente do Vasco na época da venda — Foto: Thiago Ribeiro / AGIF